terça-feira, 5 de março de 2013

Psicanálise & Literatura (1)

Caros amigos,

No vídeo abaixo, a primeira parte do interessante programa 'Entrelinhas', da TV Cultura, que traça um panorama muito legal da psicanálise com a literatura: o impacto dos grandes escritores na obra de Freud e, claro, o impacto de Freud no mundo das letras! No programa, Renato Mezan, Contardo Calligaris e outros.

Logo abaixo, um pequeno texto do psicanalista Renato Mezan, que nos ajuda a pensar...




"Essa preocupação constante de Freud em não reduzir sua disciplina a uma especialização terapêutica significa que a investigação psicanalítica, movida por sua própria dinâmica, não pode deixar de se estender às manifestações culturais. É preciso repetir que 'Totem e tabu' era seu livro preferido? 

Um interesse tão insistentemente expresso requer uma explicação. À primeira vista, a mais simples seria a seguinte: a psicanálise, desvendando os processos inconscientes, não teria porque se privar de demonstrar o funcionamento de tais processos em outros domínios da atividade humana. O postulado implícito dessa posição é a unidade do espírito, que seria discernível em qualquer dos seus produtos, em especial naqueles que trazem o selo da imaginação criadora - é o paralelo que estabelece, já na correspondência com Fliess, entre a formação das fantasias inconscientes e a criação literária.

Essa será efetivamente uma das direções que tomará a teoria freudiana da cultura, mas de modo algum a única."

[Renato Mezan, Freud Pensador da Cultura, 7a ed. - 2005]


2 comentários:

  1. Muito bom o vídeo, linguagem acessível, sucinto, esclarecedor. Imagino que Freud, junto com Marx e Nietzsche, ao emancipar o homem do conservadorismo austero da Europa do sec. XIX como falado, impôs um novo e definitivo sentido para a palavra liberdade. Se em Kant liberdade era submeter-se voluntariamente à regra ditada pela razão, no caso social poderíamos dizer razão prática, razão de convivência ou regras morais, dever, me parece que Freud conseguiu mostrar que isso não poderia ser realizado perfeitamente sem um verdadeiro atropelamento de todas as outras forças motrizes do pensamento, reduzindo o indivíduo à condição de máquina e arrastando-o para uma espécie de morte existencial, vida já antecipadamente vivida, pois que racionalmente ordenada. A perfeição da sociedade humana, como a das abelhas, em outras palavras, o paraíso na Terra, só seria possível à custa dessa condição. A literatura subsistiria ainda como criação livre, especialmente a Poesia (segundo Heidegger, é onde o Ser se mostra melhor, melhor até do que na Filosofia), como lugar em que o pensamento não se julga devedor da razão em nada, se mostra maior que a razão, infinito. No caminho para a morte, a doença chegaria como sintoma, daí a importância da terapêutica também na sua obra. Boas ideias. Forte abço. U.

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  2. Grande Ulisses, ótima reflexão!
    Um abraço!

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