quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Sujeito do conflito?


"De acordo com os modelos das neurociências e de certas correntes da psiquiatria, não é necessário pensar o homem como marcado pelo conflito, e sim como uma máquina perfeita que pode ser atormentada por alguns distúrbios e desvios de funcionamento ocasionais. De um lado, o excesso de pressão exercido pelas exigências sociais e pelo 'ritmo da vida' moderna pode causar estresse, desânimo, descontrole. De outro, alguns déficits químicos podem submeter o corpo a estados depressivos curáveis pela psicofarmacologia avançada. 

[TIRA DE ANDRÉ DAHMER - CLIQUE NA IMAGEM]

(...) Uma sociedade em que os homens concebem a sua vida psíquica segundo o modelo do distúrbio e da cura neuroquímica (ainda que não se possa negar a importância da psicofarmacologia no auxílio ao tratamento das formas extremas de sofrimento psíquico) é uma sociedade em que as condições do laço social não convocam os sujeitos a fazer do pensamento um auxílio para a mediação de suas relações e na negociação de suas diferenças. Ao empobrecimento do pensamento correspondem, de um lado, a violência; de outro lado, a depressão.

(...) A depressão, sintoma do mal-estar neste começo de milênio, (...) é ao mesmo tempo causa e consequência da recusa do sujeito em assumir a dimensão de conflito que lhe é própria. (...) O empobrecimento da vida subjetiva é o preço pago por aqueles que orientam as suas escolhas em função do medo de sofrer

(...) O medo de sofrer confunde-se com o medo do desconhecido. O fato é que o homem moderno, voltado para os ideais pós-revolucionários de felicidade (...) é alguém que desaprendeu a sofrer."

[Adaptado de 'Sobre Ética e Psicanálise' - Maria Rita Kehl, 2002]


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